COMPETE Trial: Ciclo Natural supera Terapia Hormonal na Preparação Endometrial para FET
O que o estudo COMPETE corrigido mostra para a prática clínica
O ensaio randomizado COMPETE comparou, em mulheres com ciclos ovulatórios regulares, dois métodos de preparação endometrial antes da transferência de embriões congelados-descongelados (FET): o ciclo natural (NC), que aproveita a ovulação espontânea, versus a terapia de reposição hormonal (HRT), baseada em estrogênio e progesterona exógenos.[1][2][4]
No COMPETE, 902 mulheres foram randomizadas (448 para NC e 454 para HRT) em um ensaio aberto, paralelo e controlado, realizado em um único centro de reprodução assistida na China, com análise por intenção de tratar.[1][2] O desfecho primário foi a taxa de nascidos vivos após o primeiro ciclo de FET.[1][2]
Os resultados mostraram que a estratégia iniciando com ciclo natural resultou em maior taxa de nascidos vivos (54,0% no grupo NC versus 43,0% no grupo HRT; diferença absoluta de 11,1 pontos percentuais; RR 1,26; IC95% 1,10–1,44).[1][2] Além disso, o NC esteve associado a menor risco de aborto espontâneo e de hemorragia anteparto em comparação com a HRT, sugerindo um perfil obstétrico mais favorável.[1]
Do ponto de vista fisiológico, o ciclo natural preserva a formação do corpo lúteo, estrutura que produz progesterona e outros mediadores envolvidos na adaptação cardiovascular materna e no ambiente endometrial, enquanto os protocolos com HRT suprimem essa dinâmica e expõem a paciente a doses elevadas de hormônios exógenos.[1][3] Estudos complementares destacam que o NC tende a ser percebido como mais “fisiológico”, com menor carga de efeitos adversos hormonais e potencial redução de custos, embora requeira maior monitorização da ovulação.[3]
A correção publicada do artigo no PLOS Medicine não altera a conclusão central: em mulheres ovulatórias submetidas a FET, uma estratégia que começa com ciclo natural deve ser considerada preferencial em relação à HRT para preparação endometrial, desde que haja infraestrutura para monitorar a ovulação e respeitadas as características individuais de cada paciente.[1][2][4] No entanto, como houve cross-over entre os grupos (troca de protocolo em caso de anovulação ou ovulação espontânea), os autores ressaltam que há alguma limitação na certeza sobre a superioridade absoluta de um protocolo sobre o outro, reforçando a necessidade de avaliação personalizada.[1][2]
Em síntese, o COMPETE reforça uma tendência importante na medicina reprodutiva: sempre que possível, priorizar o ciclo natural em mulheres com ovulação regular, utilizando HRT como alternativa em situações específicas, e informando claramente as pacientes sobre benefícios, riscos e incertezas ainda existentes nas evidências atuais.[1][2][3][4]
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