Das Diferenças Sexuais às Desigualdades de Sexo na Esperança de Vida: Uma Análise de Benchmarking Observacional Transnacional
Introdução
Autores: Angela Y. Chang, Emily K. Johnson, Sarah Bolongaita, Kent Buse, Sarah J. Hawkes, Omar Karlsson, Felicia M. Knaul, Margaret E. Kruk, Ole F. Norheim, Osondu Ogbuoji, David Watkins, Dean T. Jamison
Historicamente, as mulheres vivem mais que os homens em praticamente todos os países do mundo, com uma diferença global média de cerca de 5 anos em 2021: 73,8 anos para mulheres contra 68,4 para homens.[5] Essa lacuna na esperança de vida varia por região e idade, mas levanta a questão: parte dela reflete diferenças biológicas inevitáveis ou desigualdades evitáveis relacionadas a riscos, comportamentos e acesso a cuidados de saúde? Esta análise introduz um método inovador para distinguir diferenças sexuais naturais de desigualdades de sexo evitáveis, focando na esperança de vida em diferentes idades.
Métodos
O estudo propõe a razão sexual ajustada como métrica para medir desigualdades de sexo e determinar qual sexo é desfavorecido. Inicialmente, calculou-se a razão sexual da esperança de vida (homens/mulheres) aos 0, 5, 15, 35, 50 e 70 anos para 237 países. Para estabelecer benchmarks realistas sob condições favoráveis, identificaram-se os países no 5º percentil de maior esperança de vida por sexo, formando a "fronteira" — os melhores desempenhos globais para cada sexo separadamente.[base]
A razão ajustada país-específica e por idade é obtida dividindo a razão nacional pela razão da fronteira. Isso assume que, sob os atuais ambientes de risco e saúde, homens e mulheres globais podem alcançar as expectativas de vida de seus respectivos benchmarks. Uma razão ajustada >1 indica desvantagem masculina; <1, desvantagem feminina. Para evitar interpretações de pequenas variações, definiu-se uma faixa estreita ao redor de 1 (igualdade) sem rotular desvantagem. A seleção da fronteira e da faixa é empírica e sujeita a outras definições válidas.[base]
Resultados Principais
Antes do ajuste, homens tinham menor esperança de vida que mulheres em todos os países (exceto dois) e idades, alinhando-se a padrões globais onde mulheres superam homens em 4-7 anos em nações desenvolvidas, devido principalmente a maiores taxas de doenças cardiovasculares em homens.[3][1]
Após ajuste, 13% dos países (aos 0 anos) a 33% (aos 70 anos) invertem para desvantagem feminina. Mais da metade permanece com desvantagem masculina, confirmando que homens são geralmente desfavorecidos, mesmo ajustados por benchmarks.[base] Regiões como Europa Central e Oriental mostram forte desvantagem masculina em quase todas as idades. Desvantagem feminina destaca-se na Índia e em metade dos países do Oriente Médio e Norte da África, Atlântico Norte, África Subsaariana, Pacífico Ocidental e Sudeste Asiático — aumentando com a idade, especialmente na África Subsaariana e Pacífico Ocidental/Sudeste Asiático.[base]
Discussão e Contexto Global
Essa abordagem revela desigualdades evitáveis além de diferenças biológicas, como vantagens genéticas femininas (dois cromossomos X) e hormonais (estrogênio protetor cardiovascular).[2] Fatores comportamentais, como maior risco em profissões masculinas, tabagismo e acidentes, ampliam a lacuna.[1][5] Em Portugal (1940-2007), a vantagem feminina acentuou-se com a transição epidemiológica, favorecendo mulheres.[1]
A lacuna não é constante: antes de 1900, metade devia-se a mortalidade infantil; guerras ampliaram-na por mortes jovens masculinas; no século XX, ampliou-se por diferenças em jovens e idosos.[5] Em mamíferos selvagens, fêmeas vivem 18,6% mais em 60% das espécies, sugerindo bases biológicas, mas moduladas por sociais.[4]
Implicações e Limitações
O método destaca oportunidades para políticas: reduzir desvantagens masculinas via prevenção cardiovascular e riscos comportamentais; femininas via equidade em saúde em regiões subdesenvolvidas. Limitações incluem escolhas empíricas na fronteira (não puramente biológica, podendo refletir fatores não medidos) e foco observacional, sem causalidade.[base]
Esses achados reforçam a necessidade de análises nuançadas para guiar intervenções globais em saúde, promovendo igualdade além de diferenças inatas.
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