COMET-PCOS: Anticoncepcional hormonal e metformina na síndrome metabólica de mulheres com SOP e obesidade
O que este estudo investigou
O ensaio clínico randomizado COMET-PCOS avaliou, em 240 mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP) hiperandrogénica e obesidade (18–40 anos; IMC 25–48 kg/m²), o impacto de três estratégias durante 24 semanas: apenas anticoncepcional oral combinado de baixa dose (20 µg etinilestradiol/0,15 mg desogestrel), apenas metformina XR (2.000 mg/dia) ou a combinação de ambos, focando principalmente na presença de síndrome metabólica (SM).
Principais resultados metabólicos
No início do estudo, cerca de 31% das participantes apresentavam síndrome metabólica, de forma semelhante entre os grupos. Após 24 semanas, a prevalência de SM foi de 26,2% no grupo metformina, 28,6% no grupo combinado e 28,8% no grupo apenas com anticoncepcional, sem diferença estatisticamente significativa entre as três abordagens (p ajustado = 0,26).
Ou seja, nesse período de 6 meses, nem o anticoncepcional isolado, nem a metformina isolada, nem a combinação demonstraram reduzir ou aumentar de forma clara o risco global de síndrome metabólica em mulheres com SOP e obesidade, contrariando a hipótese inicial de que o anticoncepcional agravaria e a metformina melhoraria esse desfecho cardiometabólico.
Efeitos em peso, gordura abdominal e componentes da SM
De forma surpreendente, o grupo que utilizou apenas o anticoncepcional combinado apresentou reduções discretas, mas significativas, em circunferência de cintura, IMC e gordura android (região abdominal) por DXA ao longo do estudo, enquanto a metformina isolada não mostrou mudanças estatisticamente relevantes nesses parâmetros em comparação ao basal. Os componentes individuais da síndrome metabólica (triglicerídeos, HDL-C, pressão arterial, glicemia de jejum) foram monitorizados, mas não houve diferença consistente entre os grupos que se traduzisse em alteração da prevalência de SM no curto prazo.
Efeitos adversos e tolerabilidade
A tolerabilidade foi distinta entre as terapias: diarreia foi relatada pela maioria das participantes (>64%) nos grupos metformina e combinação, enquanto cerca de 24% das mulheres em uso apenas de anticoncepcional referiram sangramento uterino como efeito adverso. Esses achados reforçam a necessidade de individualizar o tratamento de SOP, ponderando benefícios metabólicos modestos, controle de ciclo e sintomas hiperandrogénicos contra o perfil de efeitos colaterais de cada opção.
O que isso significa na prática clínica
O COMET-PCOS é um estudo multicêntrico, duplo-cego e bem desenhado, mas com 6 meses de seguimento e possível falta de poder para detectar diferenças pequenas entre grupos em desfechos cardiovasculares de longo prazo. Em mulheres com SOP hiperandrogénica e obesidade que não buscam gestação, os resultados sugerem que:
- O uso de anticoncepcional hormonal combinado de baixa dose não aumentou de forma significativa a síndrome metabólica em 24 semanas.
- A metformina, isolada ou associada, não reduziu claramente a prevalência de SM nesse intervalo, apesar de seu perfil teoricamente favorável em resistência à insulina.
- A escolha terapêutica deve considerar os objetivos da paciente (controle de ciclo, acne, hirsutismo, peso, risco cardiometabólico), tempo de uso e tolerância digestiva ou ginecológica.
Como a síndrome metabólica e o risco cardiovascular na SOP se desenvolvem ao longo de anos, o estudo reforça a necessidade de acompanhamento prolongado, mudanças de estilo de vida e, quando necessário, combinação de terapias hormonais e sensibilizadores de insulina, sempre com monitorização rigorosa de parâmetros metabólicos.